"Chenets d'Alentejo". Ilustração de Paulo Ferreira

"Chenets d'Alentejo". Ilustração de Paulo Ferreira
"Chenets d'Alentejo". Ilustração de Paulo Ferreira publicada em Doré Ogrizek, Le Portugal, Paris, Éditions ODÉ, 1950.

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Invenção da Arte Popular (1)

Se há afirmação que se pode fazer sem grandes hesitações é que a arte  popular foi uma invenção burguesa. Não que os objectos assim designados sejam, em si mesmos, uma fabricação das elites. Na maior parte dos casos, os artefactos rústicos, tão apreciados por eruditos e burgueses a partir do princípio do século XX, foram sem duvida criados pelos camponeses, pastores e artesãos, nos mais diversos cantos do mundo, fruto de saberes arcaicos e  práticas tradicionais.

Ao falar de invenção, falo sobretudo de um modo de olhar que transforma o significado desses objectos.  Através do conceito de "arte popular", as coisas que faziam  parte integrante da vida quotidiana, os objectos de culto religioso ou de cunho ritual, os artefactos feitos para oferecer ou para vender, adquirem novos valores: tornam-se matéria de deslumbre e comprazimento estético em colecções, museus, ou enquanto bibelots decorativos de apartamentos e casas de campo. Eles passam a simbolizar, também, uma certa imagem idealizada e espiritualizada do povo. Nas primeiras décadas de Novecentos este fenómeno está presente em toda a Europa, nos Estados Unidos e em vários países da América Latina.